Ao longo dos tempos, a humanidade foi fascinada por histórias. Desde os primórdios da humanidade, nos reunimos ao redor de fogueiras e contamos histórias para passar conhecimento e sabedoria de geração em geração. Em nosso mundo moderno, esse fascínio pelo conhecimento narrativo ainda está profundamente arraigado e presente em nossas vidas cotidianas – na mídia, em nossos relacionamentos, em nossos locais de trabalho, em nossas famílias e em nossas práticas espirituais. Contar histórias oferece lentes adicionais através das quais podemos ver a nós mesmos. É contando e ampliando nossas histórias que mudamos nossas vidas!
O Coaching Narrativo explora a prática humana de fazer sentido através de histórias. O Centro de Coaching Narrativo e Design define a técnica da seguinte forma:
“O coaching narrativo é uma abordagem consciente, experiencial e holística que ajuda as pessoas a mudar suas histórias sobre si mesmas, sobre os outros e sobre a própria vida para criar novas possibilidades e novos resultados”.
Central para a definição acima, alguns elementos-chave que se vinculam fortemente ao Eneagrama como ferramenta apoiam uma abordagem de Coaching Narrativo. Vemos que o Coaching Narrativo não é apenas sobre nossa própria história, mas também sobre as histórias que contamos a nós mesmos sobre outras pessoas e o mundo e nossa experiência dele.
A abordagem do Coaching Narrativo chama nossa atenção para o fato de que cada um de nós carrega dentro de nós uma história sobre o mundo e como ele é e, portanto, como precisamos ser. Esta é a história ‘fixada’ ou problemática, mas existem outras narrativas mais positivas que podem abrir novas possibilidades.
A história ‘fixa’ ou problema
Usamos o conceito de ‘história-problema’ para nos referirmos àquela que nos mantém presos em um estado limitado e centrado no problema. Dizemos a nós mesmos certas coisas sobre nós mesmos e como vemos o mundo, e como devemos ser no mundo. Esta história não é necessariamente a versão completa da verdade nem representa necessariamente a riqueza que temos como seres humanos únicos.
No mundo do Eneagrama, nossa história é informada pela visão de mundo do nosso Tipo e pelos medos centrais que mantemos. Para sermos capazes de funcionar e sobreviver nesta realidade auto-criada, dizemos a nós mesmos como ‘precisamos ser’ ou como ‘deveríamos’ ser em nossa conversa interna. Isso se torna nossa principal motivação e a base da história que contamos a nós mesmos. Essa história se torna uma fixação se for a única lente que usamos para nos relacionar com o mundo.
A história que os Tipo 1 contam a si mesmos é que o mundo é imperfeito e eles precisam trabalhar para melhorá-lo e a si mesmos também - eles devem tornar o mundo um lugar melhor. Esta história impulsiona a motivação do Tipo 1 para ser bom, certo ou perfeito. Eles valorizam ser uma boa pessoa e, como resultado, o autocontrole, a integridade e a qualidade são importantes para eles. Eles lutam pela perfeição e apreciam padrões e estrutura. A história do problema dos Tipo 1 pode levá-los a acreditar que, a menos que sejam bons, certos ou perfeitos, eles são uma pessoa ruim.
A história do Tipo 2 diz a eles que as pessoas dependem deles para obter ajuda e que eles só têm valor quando são queridos, necessários e amorosos. Essa história leva sua motivação principal a ser apreciada e amada e eles investem em serem gentis, generosos e abnegados. A história do problema das pessoas do Tipo 2 os leva a oferecer apoio e atenção aos outros, reforçando a crença de que, se eles não são generosos, prestativos o suficiente, não podem ser amados.
Uma história típica da conversa interna dos Tipo 3 é que o mundo valoriza os vencedores e, portanto, eles devem evitar o fracasso a todo custo. Isso impulsiona sua motivação principal para ter sucesso, ofuscar os outros e ser o melhor. Sua história enfatiza a realização, então os resultados e a imagem são importantes para eles. A história do problema das pessoas do Tipo 3 diz a eles que, se não forem bem-sucedidos, não terão valor.
A história dos Tipo 4 é sobre como eles se comparam com os outros, e como eles estão perdendo algo e precisam lutar por sua verdadeira identidade. Isso leva sua motivação principal a ser única e autêntica , valorizando o individualismo, os sentimentos, a autoexpressão e o propósito. Românticos de coração, eles apreciam a beleza e criam significado para si e para os outros. A história do problema dos Tipo 4 reforça seu medo de que, se eles não estão fazendo a diferença ou sendo verdadeiros consigo mesmos, eles são comuns.
A história dos Tipo 5 diz a eles que o mundo é um lugar que invade sua privacidade com demandas esmagadoras, então eles precisam proteger seus recursos e energia. Isso impulsiona sua motivação principal para entender e dar sentido ao mundo ao seu redor e conservar recursos e conhecimento. A história do problema das pessoas do Tipo 5 reforça sua sensação de que eles, de fato, não têm conhecimento suficiente e serão incapazes de atender às demandas dos outros.
Uma história do Tipo 6 comunica que o mundo é um lugar ameaçador e inseguro, então eles precisam testar e questionar pessoas e coisas para se sentirem mais seguros. Isso impulsiona sua motivação principal para estar sempre seguro, preparado , responsável e alerta. Os Tipo 6 valorizam a segurança e o pertencimento e, como resultado, gentileza, lealdade e confiança são importantes para eles. A história do problema dos Tipo 6 reforça que se eles não forem cautelosos e não se protegerem, estarão despreparados , sem apoio e orientação, e incapazes de sobreviver por conta própria.
A história do Tipo 7 diz a eles que o mundo está cheio de possibilidades, ideias e experiências emocionantes e eles precisam explorar o máximo possível. Isso impulsiona sua motivação principal para experimentar a vida ao máximo e evitar a dor , aproveitando as oportunidades à medida que se apresentam. A história do problema do Tipo 7 reforça a crença de que, se eles não estiverem avançando e experimentando o que vem a seguir, ficarão limitados e presos em desconforto.
Os Tipo 8 contam a si mesmos a história de que o mundo é um lugar duro e injusto em que apenas os fortes sobrevivem, e coisas boas acontecem para aqueles que assumem o controle. Isso leva sua motivação principal a ser forte e evitar a vulnerabilidade. Valorizando o controle, eles adoram enfrentar desafios e incorporar a necessidade de justiça, o que lhes permite proteger os outros. A história do problema dos Tipo 8 reforça seu medo de que, quando não estão no controle, ficam vulneráveis a serem prejudicados ou controlados pelos outros.
A história dos Tipo 9 diz a eles que o mundo não é um lugar harmonioso onde eles podem se afirmar plenamente e que as pessoas precisam se tratar com respeito. Isso leva sua motivação central a estar em harmonia com o mundo e a ser compreensiva, acomodada e aceita. A história do problema dos Tipo 9 reforça que, se eles não mantiverem o equilíbrio, estarão em conflito, desconforto e separados dos outros.
A partir das histórias acima para cada Tipo de Eneagrama, vemos que há um poder real nessas narrativas auto-contadas. Cada história está ancorada em crenças centrais sobre o mundo que damos por certo e, por sua vez, essas histórias são validadas e apoiadas por nossas observações e interações à medida que avançamos em nossas vidas. Se estamos fixados em nossa história particular, não percebemos o impacto de nossas crenças autolimitantes em nossas próprias vidas e nas pessoas ao nosso redor. Dizemos a nós mesmos que “é assim que as coisas são” e permanecemos comprometidos com nossas histórias, em vez de nos abrirmos a interpretações alternativas do mundo e, portanto, ao crescimento.
Desafiando nossa história
Quando nos comprometemos com uma jornada de coaching, definimos o cenário para transformar ativamente nossas histórias atuais. À medida que nos tornamos mais conscientes das histórias que contamos a nós mesmos, começamos a ganhar perspectiva e perceber como podemos estar limitando nossa realidade. Começamos a mudar para uma perspectiva mais aberta e nos comprometemos com a tarefa de desafiar nossas histórias à medida que nos esforçamos para praticar diferentes comportamentos.
“Autenticidade é a prática diária de deixar de lado quem pensamos que deveríamos ser e abraçar quem somos” -Brené Brown
O objetivo de desafiar nossa história é abordar as crenças, práticas e suposições que nos limitam. Podemos igualar esse processo a um em que ‘acordamos do sono’ e começamos a escapar de nossas fixações, permitindo-nos explorar mais possibilidades. À medida que refletimos sobre as histórias que informam nossa identidade, percebemos que a história do problema não é toda a verdade sobre nossas vidas. Tornamo-nos mais abertos a explorar histórias alternativas que reflitam um senso mais holístico de nós mesmos, para contar uma versão mais completa da história de quem realmente somos.
As virtudes do nosso tipo
A alternativa para nossas histórias de problemas fixas geralmente está nas virtudes de nosso Tipo, que nos lembram de ter uma perspectiva mais ampla do mundo.
Quando os Tipo 1 aceitam o mundo como ele é com serenidade, em vez de se opor a ele, eles não precisam mais corrigir tudo. Quando isso acontece, a raiva crítica não tem mais lugar e eles se abrem para o que quer que se apresente, permitindo-se ficar em paz.
Quando os Tipo 2 aprendem a reconhecer seus limites e reconhecem que não são indispensáveis para outras pessoas, seu orgulho dá lugar à humildade . Como resultado, os Tipo 2 são capazes de estabelecer limites saudáveis e dar amor conforme necessário.
Quando os Tipo 3 estão esperançosos de que serão aceitos por quem são, seu auto-engano e a imagem que apresentam ao mundo dão lugar à verdade e à auto-aceitação. Como resultado, o desejo do Ennea 3 de parecer competente e bem-sucedido a todo custo se torna desnecessário.
Quando os Tipo 4 são capazes de ver o positivo e o negativo em igual medida, eles param de invejar os outros e abordam a vida com equanimidade, levando a vida como ela vem, sem personalizar ou reagir às situações. Como resultado, sua crença fundamental de que outras pessoas têm melhor dá lugar a um verdadeiro engajamento autêntico.
Quando os Tipo 5 se desprendem de sua necessidade de serem autossuficientes e isolados, eles apreciam que podem entender melhor o mundo participando dele. Tomando apenas o que é necessário, eles aprendem a confiar que podem reabastecer seus recursos, principalmente tempo e espaço.
Quando os Tipo 6 assumem coragem e fé, eles reconhecem que seus medos de segurança e proteção são em grande parte autoconcebidos. Não mais inibidos por sua história, eles começam a questionar seus medos e suposições, agindo sem se submeter às regras ou ideologias dos outros.
Quando a fome gulosa de estimulação dos Tipo 7 é temperada pela sobriedade, eles não mais temem a limitação. Moderando-se, desacelerando e ancorando-se no aqui e agora, eles experimentam mais qualidade de vida e verdadeira alegria.
Quando os Tipo 8 abandonam o medo de serem controlados, tornam-se mais abertos. Em um estado de inocência, eles apreciam e experimentam a vida sem julgamento ou expectativa, neutralizando seu desejo de excesso e poder.
Quando os Tipo 9 adotam a ação correta, eles saem da inércia para descobrir sua própria intenção e propósito e agir de acordo com eles. Ao descobrir o que eles realmente acreditam e agir de acordo com o que eles pensam e sentem autenticamente, eles começam a viver por si mesmos.
Desempacotando essas histórias, nos permitimos experimentar diferentes filtros de realidade e olhar para nossos problemas e desafios com novos olhos. Em última análise, essa mudança indicará que não estamos mais colocando os outros e nós mesmos em caixas.
“As práticas narrativas buscam reumanizar o mundo através do contar, recontar e testemunhar as múltiplas histórias de nossa experiência vivida – histórias que interpretamos e histórias que conhecemos.”
-Chené Swart, Re-autorizando o mundo
Nossa capacidade de desenvolver e reconhecer essas histórias mais ricas, saudáveis e autênticas sobre nós mesmos nos permite experimentar vidas mais felizes e gratificantes. Ao trabalhar com nossa história e suas limitações por meio do Eneagrama, podemos nos transformar e apoiar uma forma mais holística de ser e pensar no mundo.
